VEREDAS DA ESPERANÇA

 

Na responsabilidade de cada um se constroem as veredas da esperança - Pe. Nelito Dornelas


Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa, é um jagunço convertido que se transforma em um místico empolgado.

Extasiado com sua nova descoberta, aproxima-se do velho amigo Clemente para lhe apresentar algo original. Diz ele: se fizéssemos uma igrejona enorme em algum lugar das Gerais e as pessoas vivêssem só de altas rezas, acabariam a robalheira, as maldades e tudo de ruim que existe. Qual não foi sua surpresa, quando o Clemente desaprovou sua ideia, fazendo um sinal negativo com a cabeça, jogando-lhe uma tonelada de água fria. Não é assim não, Riobaldo, a colheita é comum, mas o carpir é individual.

De fato, cada um de nós é responsável pelos nossos atos e atitudes, pois somos um ponto de interrogação ambulante, que vive curvado sob o peso de um fardo que, para os orientais, é uma tara ou uma cruz, herdada do medo, da dúvida, da insegurança e das inquietações da vida. Somos livres sim e, ao mesmo tempo, escravos das próprias escolhas pessoais e coletivas. Somos agitados por ventos furiosos, contrários e contraditórios que se transformam em furacão a nos devastar. As interrogações, uma após outra, cobrem nossos passos titubeantes, nossa turva visão e nossa frágil embarcação, criando abismos sobre os quais construímos, lentamente, nossas pontes, a nos levar do outro lado da travessia. Neste momento de nossa existência somos empurrados, involuntariamente, a desertos sem sombra de oásis, a florestas sem qualquer sinal de veredas, a destinos sombrios e enigmáticos, sem pontos de referências em nossos Gerais.

Noventa e nove por cento de nossas inquietantes perguntas não encontram resposta. Noventa e nove por cento de nossos males estão desprovidos de remédio. É claro que a nossa história, com suas engrenagens enferrujadas e ruidosas, implacavelmente avança, porém as estrelas estão com seus brilhos distantes, como que centradas em si mesmas e não iluminam a nossa noite. Os sianis que nos guiavam em nossa estrada estão se tornando incompreensíveis ou ilegíveis. O chão, sob os pés, se faz arenoso, movediço e escorregadio. Temores e tremores estão se tornndo “o pão nosso de cada dia”.

Sabendo ou sem o saber, buscamos um refúgio, um ponto de apoio, uma referência sólida e segura, um porto e um ponto de chegada. Mas estes se convertem, irremediavelmente, em novo ponto de partida. E prosseguimos na busca de um colo acochegante. Talvez, sabendo ou sem o saber, o colo saudoso da mãe, um útero que nos nutra, defenda e ofereça proteção. Por mais crescidos e adultos que sejamos, seguimos sendo seres carentes, crianças que gritam por socorro. Continuamos “gemendo e chorando neste vale de lágrimas”. Mas os embates da vida não oferecem trégua. Os viajantes que caminham ao lado, ou aqueles que condidivem o cotidiano, parecem não ter ouvidos. Cala-se igualmente o céu, permanecendo mudo e surdo, indiferente e longínquo. A quem dirigir-se para que nossa dura realidade se trnforme em “vida, doçura, esperança nossa, salve”?

Como manter o fio da esperança de ver o fim de toda maldade? A esperança tem raízes profundas na experiência de uma vida marcada por sucessos e fracassos, altos e baixos, avanços e recuos. Uma busca atenta que satisfaça as expectativas da herança do passado, que nos potencializa a enfrentar os desafios do presente e a nos capacita a construir um projeto para um futuro promissor.

A esperança tem os pés firmes no chão, nele tentando lançar os alicerces de um amanhã robusto e consistente, o qual, como as plantas e os edifícios, se erguem, lentamente, do solo. Um espernça que acredita que o caminho mais seguro é a via longa que os místicos denominam de via purgativa, iluminativa e unitiva, imprescindíveis na travessia da existência, que nos permitm abrir atalhos, fazer desvios para alcançar a meta final de um “novo céu e uma nova terra”.

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