A VOCAÇÃO SACERDOTAL
A VOCAÇÃO SACERDOTAL
Para refletir sobre a vocação
Pe. Nelito N. Dornelas
Pelo sacramento do batismo participamos da missão sacerdotal, profética e régia.
Como um povo sacerdotal somos vocacionados ao cuidado da vida litúrgica e sacramental para nos tornarmos guardiães da virtude teologal da Fé. Como povo profético somos impelidos a nos alimentarmos da Palavra de Deus para nos tornarmos mantenedores da virtude teologal da Esperança. Como um povo régio e pastor, temos a responsabilidade de nos engajarmos no compromisso com a comunidade de vida, aproximando-nos das feridas do outro para cultivarmos a virtude teologal da Caridade.
Em Cecília Meireles encontramos uma proposta existencialista que nos provoca a nos desinstalar e a superar a autorreferencialidade constatada e denunciada pelo papa Francisco em ambientes eclesiais.
Renova-te. Renasce em ti mesmo. Multiplica os teus olhos, para verem mais. Multiplicam-se os teus braços para semeares tudo. Destrói os olhos que tiverem visto. Cria outros, para as visões novas. Destrói os braços que tiverem semeado, para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo. Sempre outro. Mas sempre alto. Sempre longe. E dentro de tudo.
Perguntarão pela tua alma, a alma que é uma ternura, bondade, tristeza, amor.
Mas tu mostrarás a curva do teu voo livre por entre os mundos.
Não digas onde acaba o dia. Onde começa a noite. Não fales palavras vãs. As palavras do mundo. Não digas onde começa a Terra, onde termina o céu. Não digas até onde és tu.
Não digas desde onde és Deus. Não fales palavras vãs. Desfaze-te da vaidade triste de falar.
Pensa, completamente silencioso, até a glória de ficar silencioso, sem pensar.
O teólogo Karl Rahner descreve sobre a identidade do presbítero de forma tão realista que até nos provoca um certo espanto.
O sacerdote de amanhã será uma pessoa de coração trespassado, ferida da qual lhe advirá a força para realizar a sua missão. Um coração trespassado, ferido pela ausência de Deus na existência, ferido pela loucura do amor, ferido pela consciência que nasce da incapacidade de êxito, ferido pelo sentimento de ser ele próprio digno de piedade, de ser questionado; e, ao mesmo tempo, um ser persuadido de que é de tal coração que há de brotar a força de sua missão, a autoridade da função, o valor objetivo da pregação, a eficácia dos sacramentos no acontecimento da salvação através da graça: a tudo por meio de um coração trespassado.
Digo mais, o sacerdote de amanhã será uma pessoa de coração trespassado, tendo por tarefa conduzir a humanidade ao âmago, ao próprio centro de seu ser, ao fundo de seu coração, e sabendo que não poderá atingir esta meta se ele mesmo não tiver encontrado seu próprio coração, se não tiver descoberto a incompreensibilidade do Amor, que, só para vencer caiu na morte.
“Que eu me torne em todos os momentos, agora e sempre, um protetor para os desprotegidos, um guia para os que perderam o rumo, um navio para os que têm oceanos a cruzar, uma ponte para os que têm rios a atravessar, um santuário para os que estão em perigo, uma lâmpada para os que não têm luz, um refúgio para os que não têm abrigo e um servidor para todos os necessitados.” (Dalai Lama)