DEUS NOS AMOU PRIMEIRO

 

Amamos porque primeiro Deus nos amou

Pe. Nelito Dornelas

Desde 1971, a Igreja no Brasil promove, em setembro, o mês da Bíblia.

Dando continuidade ao ciclo do tema: “Para que n’Ele nossos povos tenham via”, as comunidades cristãs são convocadas a estudarem a primeira carta de São João, neste ano, com destaque para o lema: “Nós amamos porque primeiro Deus nos amou”(1 João, 4,19). 

A leitura deste livro da Bíblia é de fundamental importância no contexto atual e pode ser assumido como um verdadeiro manual de sobrevivência e de salvaguarda da fé cristã original, bem como um manual de defesa e promoção dos direitos humanos. Nele nos deparamos com expressões bem fortes, como: “Todo aquele que odeia seu irmão é homicida” (1Jo 3,15); é um grito em defesa da vida humana. O amor ao próximo é o primeiro e o último passo para respeitar e recuperar a vida de todos os seres humanos. Cada pessoa é digna somente pelo fato de existir, pois é uma forma única e irrepetível, é expressão do infinito amor de Deus: “Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1Jo 4,8). 

“Como pode o amor de Deus permanecer em quem possui os bens deste mundo, se esse tal vê seu irmão passando necessidade e lhe fecha o coração?” (1Jo 3,17). 

A história de Caim e Abel (cf. Gn 4,1-8) é lembrada para realçar esta luta histórica entre o amor e o ódio. “Não façam como Caim, que pertencia ao Maligno e assassinou seu irmão. E por que o assassinou? Porque suas obras eram más, e as do seu irmão eram justas” (1Jo 3,12). De fato, após o relato do primeiro pecado, a Bíblia nos apresenta a história de Caim e Abel, símbolo de todas as nossas agressões contra a vida do irmão. Javé protesta e cobra respeito aos direitos humanos do inocente Abel, dizendo a Caim: “Que fizeste! O sangue de teu irmão clama por mim desde a terra” (Gn 4,10). Mas, curiosamente, Javé se importa também com os direitos humanos do culpado Caim. Proíbe que se devolva a ele a mesma agressão: “E Javé colocou um sinal sobre Caim, afim de que ele não fosse morto por quem o encontrasse” (Gn 4,15).

E a carta de João faz esta advertência: “E não fiquem espantados, irmãos, se o mundo odeia vocês” (1Jo 3,13). Há uma oposição entre Jesus Cristo e o mundo, como entre Caim e Abel, como a oposição entre “estar na luz” e “estar nas trevas”: “Deus é luz, e nele não há trevas” (1Jo 1,5); “Quem diz que está na luz, mas odeia seu irmão, está na escuridão até agora. Quem ama seu irmão permanece na luz, e nesse não há ocasião de tropeço” (1Jo 2,9-10). Afirma-se a consciência de que o tempo presente, o agora, vem acompanhado da oposição entre “vida” e “morte”: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos aos irmãos. Quem não ama permanece na morte” (1Jo 3,14). O amor gera “vida”, e o ódio produz a “morte”!

Com muita clareza a carta de São João descreve sobre a oposição entre a vida e a morte, alertando para a gravidade dos desentendimentos e conflitos dentro da comunidade que se desdobra na sociedade. E o conflito provocado pelos anticristos na comunidade se acirra a ponto deles serem acusados de ato homicida: “Todo aquele que odeia seu irmão é homicida, e vocês sabem que nenhum homicida tem a vida eterna dentro de si” (1Jo 3,15). O termo “homicida”, utilizado apenas três vezes no Novo Testamento, aparece duas vezes na primeira carta de João (cf. 1Jo 3,15) e uma vez no evangelho: “O pai de vocês é o diabo, e vocês querem realizar os desejos do pai de vocês. Ele era assassino, homicida, desde o princípio e não esteve do lado da verdade, porque nele não existe verdade” (Jo 8,44a).

Ao contrário, o amor ao próximo está no princípio do sentimento, do pensamento e da ação do Deus da vida e de seu Filho, Jesus Cristo, que produz a liberdade, a vida nova e a vida eterna dos irmãos: “É nisto que conhecemos o que é o amor: porque Jesus entregou sua vida por nós; portanto, também nós devemos entregar a vida pelos irmãos” (1Jo 3,16). “A palavra de Deus permanece em vocês, e vocês estão vencendo o Maligno. Não amem o mundo nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor de Deus não está nele” (1Jo 2,14b-15); “Neste mundo vocês terão aflições, mas tenham coragem: eu venci o mundo” (Jo 16,33b). A vida cristã sustenta-se na fé absoluta em Deus e na prática do seu amor! “Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com obras e na verdade” (1Jo 3,18). “Nisso sabemos que somos da verdade e podemos tranquilizar nosso coração diante de Deus. Porque, se nosso coração nos condenar, Deus é maior que nosso coração e conhece todas as coisas. Amados, se nosso coração não nos condena, temos confiança diante de Deus, e recebemos tudo o que lhe pedimos, porque guardamos seus mandamentos e fazemos o que lhe agrada” (1Jo 3,19-22).

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