NATAL: "ESPERANÇAR""
Natal: tempo de conjugar o verbo esperançar - Pe. Nelito Dornelas
A celebração do Natal é uma grande oportunidade para refletirmos sobre a continuidade da história e da criação divina.
A vida insiste em ser gerada, vencendo as forças da morte, a cada dia. Nascendo e crescendo sempre como criança, assim vamos nós e a história da humanidade em sua fragilidade e, ao mesmo tempo, sustentada pelas mãos divinas.É esplêndido saber que a cada dia nascem milhares de crianças. O desafiante é que maior parte delas nasce na pobreza, numa estrebaria, sem futuro, em condições precárias e sub-humanas. Mas, apesar de pobres, elas nascem cercadas por uma alegria e uma fé na vida, que desnorteia aqueles que têm abundância de tudo.
Nascem como um evangelho, uma boa notícia para os corações ressequidos. Dizia Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa, quando saía da casa onde ajudou uma prostituta a dar a luz: “Minha Senhora Dona! Um menino nasceu o mundo tornou a começar!”
Revisitando as páginas da Bíblia encontramos inúmeras histórias que enchem o nosso coração de esperança com o nascimento singelo de tantas crianças que se tornaram o lugar privilegiado da manifestação divina.
A criança nascida de Sara e Abraão nos manda dar risada e crer que Deus cumpre o que promete. A criança nascida de Agar abre com o seu choro o ouvido de Deus e aponta um caminho para a mãe. A criança nascida de Rute confirma o caminho de Noemi: pão, família, terra: quem vai por aí não erra. A criança nascida de Gomer, esposa de Oséias, reverte todo um processo danoso em curso e desperta para a misericórdia. A criança nascida da esposa de Isaías é sinal de esperança contra o desespero provocado pelo rei. A criança nascida da mulher em dores de, descrita no Apocalipse enfrenta o dragão e inicia a vitória da vida sobre a morte. A criança nascida de Maria enche de esperança o coração dos pobres e dos simples e nos leva a proclamar: “A minha alma engrandece o senhor e exulta meu espírito em Deus meu salvador!”
Natal transforma os desafios em esperança e aponta para novos caminhos. Faz “entoar um canto novo de alegria, ao raiar aquele dia de chegada em nosso chão, com meu povo celebrar a alvorada, minha gente libertada”. É a garantia de que “lutar não foi em vão”.
Apesar de novas, as crianças quando nascem já refizeram, em nove meses, a história de bilhões de anos. Mas o que vale é a nova criatura que mostra o seu rosto e chora ou ri. O novo gerado é sempre fruto de espera paciente e ativa de quem acredita e semeia sonhos de esperança e sabe conjugar o verbo esperançar. Outros jogaram as sementes, nós estamos irrigando. O que vale é a nova criatura que gera esperança e alegria e nos desafia, com a sua fragilidade, pedindo-nos apoio, carinho e ajuda.
O Planeta geme em dores de parto para que uma nova humanidade possa nascer e renascer. Natal é uma oportunidade para renovarmos o compromisso com a Vida que nasce e renasce, a cada dia, pela força da Palavra de Deus encarnada que está inscrita em todas as criaturas.
Natal é tempo de reverter o curso da história, de colocar a economia a serviço dos povos, sobretudo dos pobres, de derrubar muros e construir pontes, de encarar de frente a crise de civilização, de transformar o cinismo em dignidade e a dignidade em poder, de reconstruir a Nação e redemocratizar a política, fazer-se cidadão e defender os direitos civis, sociais e humanos, conquistados a duras penas, é tempo de voltar aos valores coletivos e comunitários, de mundializar as lutas sociais, despertando a esperança dos povos.
Chegou o tempo das convergências, o tempo de um pensamento criador e universal, o tempo da ação, pois a graça libertadora assumiu a nossa carne e fecundou o nosso chão. O Salvador e Redentor está em nós!
É tempo de cantar: “Glória a Deus no mais alto dos céus, que se uniu, de tal forma, à nossa terra que enche de paz o coração de quem se faz seu bem-amado!”