QUARESMA E A PÁSCOA NAS COMUNIDADES
A quaresma e a celebração pascal nas comunidades
Pe. Nelito Dornelas
A quaresma é o tempo de preparação à grande festa da páscoa. É tempo de retomar as exigências do batismo e de renovar a adesão a Jesus e à sua Palavra; tempo de reconciliação e de penitência; de jejum, oração e solidariedade, superando o mal com o bem, passando da velha para a nova conduta segundo os critérios de Jesus.
Em nossas comunidades na Igreja do Brasil, houve uma progressiva apropriação do sentido teológico e das expressões rituais que compõem o ciclo pascal. Muitas comunidades se esforçam para celebrar o tríduo pascoal, que começa na quinta-feira santa e vai até a vigília do sábado, como memória anual da páscoa num todo unitário, como era nos primeiros séculos da Igreja. A Vigília pascal, em muitas comunidades, recuperou o seu caráter noturno e voltou ao seu lugar de “mãe de todas as vigílias da Igreja”, ápice das celebrações pascais e de todo o ano litúrgico.
Sabemos que a eficácia do rito não se dá automaticamente; supõe uma pedagogia pastoral que vai da evangelização à celebração e da celebração ao cotidiano. Quando não se dá a devida formação às lideranças de uma comunidade, há um esvaziamento das conquistas litúrgicas da comunidade, reduzindo as celebrações em cumprimento de normas e ritos assumidos de uma maneira absolutamente formal, ou simplesmente se ignora a riqueza proposta pela reforma litúrgica com seus princípios e orientações. E o vazio acaba sendo preenchido por iniciativas particulares nem sempre consistentes.
Cabe aqui uma avaliação pessoal, de como cada um de nós se deixa orientar pela riqueza de Palavras, símbolos e orações deste tempo litúrgico e ajudamos nossas comunidades na apropriação da riqueza espiritual e pastoral deste tempo.
Sabemos que não há solução fácil para um problema que mais parece ser espiritual do que formal. Não basta mudar o rito, é necessário um esforço pastoral para realizá-lo de tal maneira que seja expressão das experiências pascais vividas no dia a dia e, ao mesmo tempo, que seja fonte espiritual que nos leve a fazer do nosso cotidiano uma páscoa contínua em nossos gestos e atitudes pessoais e comunitárias.
À luz do que propõe o Concílio Ecumênico Vaticano II na Sacrosanctum Concilium, cada equipe pastoral faça uma avaliação ou observação da realidade local: Como o ciclo pascal é percebido no conjunto do ano litúrgico? Com que pedagogia trabalhamos a quaresma, o tríduo pascal e o tempo pascal, em função de uma espiritualidade pascal? O que conseguimos colocar em prática, a partir da reforma litúrgica do Concílio o que ainda nos falta? O que fazer para que as festas pascais sejam ponto alto na vida da comunidade, expressão da fé de uma Igreja que assume como missão a defesa da vida, o cultivo e o cuidado com a criação?
Estas questões tornam-se pertinentes, como nos alerta o papa Francisco: “diga-me como tu rezas, que te direi como tu vives. Diga-me como tu vives, que te direi como tu rezas.”