VIDA RELIGIOSA CONSAGRADA
Vida religiosa consagrada, dom e desafio - Pe. Nelito Dornelas
A Vida Religiosa Consagrada constitui-se a partir das exigências relacionadas aos votos de pobreza, castidade e obediência, sempre radicalizada na Boa Nova do Evangelho.
Esse tripé indissociável é como um casamento, uma alinaça indissolúvel. Isso vale para o comportamento religioso e sociopolítico de todo cristão. São exigências feitas por Jesus a todos os que se colocam em seu seguimento.Podemos traduzir as exigências dos votos a partir de quatro imagens bíblicas sugestivas: montanha, casa, mesa e caminho.
Essas imagens não são realidades separadas e estanques, mas dimensões vivas e dinâmicas da mesma prática e opçao de vida. Montanha, casa, mesa e caminho não se separam na vida de Jesus e jamais poderão se dissociar na vida relgiosa. Elas complementam-se, integram-se e se interpelam reciprocamemnte, através de vasos comunicantes invisíveis pela graça divina. Quanto mais Jesus sobe à montanha para encontrar-se com o Pai, na oração, mais se vê atraído à presença dos pobres, órfãos, viúvas, solitários e perdidos pelos caminhos da exclusão social, interpelando-o à missão. Na casa e ao redor da mesa, Jesus procura, a todo custo, formar uma comunidade de apóstolos e discípulos e discípulas para levar adiante sua obra, partilhando com eles o pão e a vida, fazendo-se pão e vida, ao mesmo tempo. Quanto mais Jesus aprofunda seu compromisso com os doentes e indefesos, frágeis e marginalizados no caminho, na missão, mais sente a necessidade de voltar à presença do Pai, desenvolvendo uma espiritualidade de intensa intimidade e total confiança, pela oração. E cada vez mais Jesus sente a necessidade de intercambiar a própria experiência com os amigos mais íntmos e companheiros na casa e na mesa.
Da mesma forma que a montanha e a oração exigem e interpelam ao caminho, à missão, estes necessitam e se nutrem daquela. Em meio à montanha e o caminho, a vida comunitária, a casa, a mesa, se apresentam como uma espécie de posto de abastecimento. Ali abastece-se não para se estacionar, mas para retormar a estrada, prosseguir o caminho. A casa, mesa constituem uma retaguarda segura e sólida para quem, a cada momento, tropeça com as adversidades da vida missionária, o caminho e com a noite escura da oração na montanha. Na aridez do processo místico-espiritual, por uma parte, e nos fracassos e desilusões da atividade sociopastoral, por outra, a comunidade religiosa é o lugar onde pode-se encontrar espaço para a escuta, o diálogo e a compreensão mútua. Quando podemos contar com essa retaguarda da casa e da mesa, lançamo-nos no caminho com muito mais coragem e confiança. E com igual confiança nos dispomos a atravessar o deserto do silêncio de Deus. Ao contrário, sem esse ponto de encontro e de recíproco reforço, pouco a pouco as forças nos abandonam e facilmente abandonamos a luta, tanto no processo de formação da espiritualidade quanto no processo de evangelização.
A falta de um desses pilares pode levar ao abandono ou ao fracasso da Vida Religiosa Consagrada. De fato, a montanha, oração sem a casa, mesa e o caminho, leva-nos a um deus feito à nossa imagem e semelhança, que deixa de nos interpelar e de nos interessar; um deus que se faz manipular, justificando todas as nossas atitudes e projetos pessoais e individuais. Doutro lado, o caminho, a ação missionária sem a montanha, casa e mesa, pode conduzir à manipulação dos outros, sobretudo dos pobres em vista de interesses individuais ou de grupo.
A casa, mesa, a vida comunitária sem a montanha e o caminho, tende a criar um fã-clube centrado em si mesmo, utilizando às vezes o espaço religioso para o lazer puro e simples, sem maiores comprmissos pastorais, sociais ou políticos.
No ministério público de Jesus, essas dimensões se entrelaçam inextrincavelmente. Uma questiona e se deixa questionar pelas demais. Uma requer e reconduz às demais. Essas dimensões fazem parte de uma espécie de círculo virtuoso que cresce em espiral aberta, dinâmica e dialética, ampliando cada vez mais o raio de espiritualidade, vida em comum e ação evangelizadora, contribuindo no pleno cumprimento dos votos de obediência, pobreza e castidade.