JUSTIÇA CLIMÁTICA E JUSTIÇA SOCIAL

 

Justiça climática e justiça social são inseparáveis -  Pe. Nelito Dornelas

Muitos pobres vivem em lugares particularmente afetados por fenômenos relacionados com o aquecimento, e os seus meios de subsistência dependem fortemente das reservas naturais e dos chamados serviços do ecossistema como a agricultura, a pesca e os recursos florestais. 

É trágico o aumento de emigrantes em fuga da miséria agravada pela degradação ambiental, que, não sendo reconhecidos como refugiados nas convenções internacionais, carregam o peso da sua vida abandonada sem qualquer tutela normativa. 

Infelizmente, verifica-se uma indiferença geral perante estas tragédias, que estão acontecendo agora mesmo em diferentes partes do mundo. 

A falta de reações diante destes dramas dos nossos irmãos e irmãs é um sinal da perda do sentido de responsabilidade pelos nossos semelhantes, sobre o qual se funda toda a sociedade civil (Laudato Si’, nº 25).

Os refugiados climáticos já estão em nosso meio, devido ao rompimento da barragem de rejeitos de minério em Fundão, município de Mariana, ocorrido no dia cinco de novembro de 2015.

As palavras do papa Francisco presentes na Laudato Sí têm sabor de profecia, ao denunciar que há uma relação estreita entre a dívida ecológica e a dívida social. Ao reconhecer que a questão ecológica insere-se intrisecamente na questão social (LS 19) conclui-se que há uma intima relação entre os pobres e a fragilidade do planeta (LS, nº 16). Hoje não podemos deixar de reconhecer que uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres (LS, nº 49).

Como as agressões ambientais atingem o povo mais pobre (LS, nº 48), a degradação do meio ambiente e a degradação do ser humano ocorrem simultaneamente, por isso mesmo não podem ser consideradas desvinculadas uma da outra. Qualquer conjunto de políticas públicas destinadas a sanar as feridas e sintomas de doença (LS, nº 2) do planeta terra, deve levar em conta as feridas sociais (LS, nº 6) das populações mais afetadas, debilitadas e indefesas.

Os refugiados climáticos são hoje a maior profecia a ser ouvida por todos nós. São o grito da terra e o grito da humanidade fragilizada num só e único grito: o grito pela vida. 

Ainda prevalece, de forma acentuada, a indiferença geral. Constatamos, com muito pesar, o rastro de destruição deixado pela lama tóxica, com mortes, destruição do meio ambiente, instabilidade e insegurança em toda a população da Bacia do Rio Doce, sobretudo em Governador Valadares, a cidade que, diretamente, foi a mais atingida e prejudicada, sobretudo, por ter o rio Doce como sua única fonte de captação de água para o consumo humano, industrial e sedentação animal e, saber que os seus rios afluentes estão agonizando.

Diante desta desafiadora realidade, com o Papa Francisco rezemos a oração pela nossa terra e façamos dela a bandeira de luta de nosso dia a dia.

Deus Onipotente, que estais presente em todo o universo e na mais pequenina das vossas criaturas, Vós que envolveis com a vossa ternura tudo o que existe, derramai em nós a força do vosso amor para cuidarmos da vida e da beleza. Inundai-nos de paz, para que vivamos como irmãos e irmãs sem prejudicar ninguém.

Ó Deus dos pobres, ajudai-nos a resgatar os abandonados e esquecidos desta terra que valem tanto aos vossos olhos.

Curai a nossa vida, para que protejamos o mundo e não o depredemos,

para que semeemos beleza e não poluição nem destruição.

Tocai os corações daqueles que buscam apenas benefícios à custa dos pobres e da terra.

Iluminai os donos do poder e do dinheiro para que não caiam no pecado da indiferença, amem o bem comum, promovam os fracos, e cuidem deste mundo que habitamos.

Os pobres e a terra estão bradando: Senhor, tomai-nos sob o vosso poder e a vossa luz, para proteger cada vida, para preparar um futuro melhor, para que venha o vosso Reino de justiça, paz, amor e beleza.  

Louvado sejais! Amém.

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