ADVENTO: ESPERANÇA APESAR DE TUDO

 

Advento: esperança apesar de tudo -  Pe. Nelito Dornelas

   

Isto é sinal de que Deus ainda acredita na humanidade, apesar do fracasso dos que (des)governam o mundo.



No seio de Maria Deus se fez carne e na oficina de José Deus se fez classe! (Dom Pedro Casaldaliga)


Fala-se que todo menino quer ser homem, que todo homem quer ser rei, que todo rei quer ser deus, e que só Deus quis ser menino.

Ele é a Eterna Criança, o Deus que faltava. Ele é humano que é natural. Ele é o divino que sorri e que brinca. E por isso é que eu sei com toda certeza que ele é o Menino Jesus verdadeiro. É a criança tão humana que é divina. Damo-nos tão bem um com o outro, na companhia de tudo, que nunca pensamos um no outro. 

Da manjedoura nos vem esta voz: Oh, criatura humana, não tenhas medo de Deus. Não vês que sua mãe enfaixou seus bracinhos? Ele não ameaça ninguém. Mais que ajudar, ele precisa ser ajudado e carregado no colo.

Estamos em tempo de advento, nos preparando para o Natal, mas o clima não é natalino, é de sexta-feira da paixão. Há muitas trevas ofuscando a luminosidade do Natal, dificultando nossa esperança. Como toda semente necessita de cuidados especiais para germinar, assim também a lamparina do Natal precisa de mãos firmes e olhares atentos para não ser apagada, como bem nos alertava Jesus: Não deixe a lamparina apagar, pois não se sabe a hora que o Noivo irá chegar! O Natal nos remete à proposta nupcial entre Deus e a humanidade.

Como todas as germinações das sementes, também a luzinha que acendemos a cada domingo do advento em preparação ao Natal é ameaçada pela velocidade de um mecanismo destruidor que age em sentido contrário ao desenvolvimento pleno da humanidade.

Existem forças poderosas que insistem em neutralizar este ensaio lento de amadurecimento de uma humanidade renovada construtora de uma nova sociedade, que pode consolidar-se e transformar-se num chicote, num chicote existencial que, como no Egito do Antigo Testamento, escraviza, rouba a liberdade, golpeia sem misericórdia certas pessoas e ameaça constantemente outras, para abater todos como reses, até onde o dinheiro divinizado quiser. 

Quem governa o mundo não é o principio de solidariedade fraterna trazida pelo Emanuel, o Deus menino, frágil criança que caminha conosco, mas o ídolo do dinheiro. Como governa? Com o chicote do medo, da desigualdade, da violência financeira, social, cultural e militar que gera cada vez mais violência numa espiral descendente que parece infinita. Quanta dor e quanto medo! Existe um terrorismo de base que provém do controle global do dinheiro na terra, ameaçando a humanidade inteira. É deste terrorismo de base que se alimentam os terrorismos derivados, como o narcoterrorismo, o terrorismo de Estado e aquele que alguns erroneamente chamam terrorismo étnico ou religioso. Mas nenhum povo, nenhuma religião é terrorista! É verdade, existem pequenos grupos fundamentalistas em toda a parte. Mas o terrorismo começa quando ‘se expulsa a maravilha da criação, o homem e a mulher, colocando no seu lugar o dinheiro’. Este sistema é terrorista. 

O Natal é o grito daquela inteligência humilde, mas, ao mesmo tempo, vigorosa e purificadora. Um projeto-ponte dos povos diante do projeto-muro do dinheiro. Um programa que visa o desenvolvimento humano integral. Temos o dever de ajudar a curar o mundo da sua atrofia moral. Mas este mundo não permite o desenvolvimento do ser humano na sua totalidade, o desenvolvimento que não se reduz ao consumo, que não se limita ao bem-estar de poucos, que inclui todos os povos e as pessoas na plenitude da sua dignidade, desfrutando fraternalmente da maravilha da criação. Este é o desenvolvimento do qual nós temos necessidade: humano, integral, respeitador da criação, desta casa comum. 

Caros irmãos e irmãs, todos os muros ruem. Todos! Não nos deixemos enganar. Continuemos a trabalhar para construir pontes entre os povos, pontes que nos permitam derrubar os muros da exclusão e da exploração. Enfrentemos o terror com o amor! 

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