CRISTÃOS LEIGOS E LEIGAS
Chegou a hora dos cristãos leigos e leigas - Pe. Nelito Dornelas
Ao celebrar, na festa de Cristo Rei, o dia do cristão leigo e leiga, torna-se oportuno refletir a carta do Papa Francisco ao Cardeal Marc Ouellet sobre essa “hora dos cristãos leigos e leigas”, escrita aos 28 de abril de 2016.
Apresento-lhe uma síntese desta carta que bem expressa o pensamento do Papa Francisco. Afirma ele que todos nós nos ingressamos na Igreja como leigos e leigas. Que o batismo é o primeiro sacramento que selou nossa dignidade e identidade cristãs de filhos e filhas de Deus. Devemos sempre nos orgulhar da unção do Espírito que nos consagrou para sermos um sacerdócio santo. Nossa primeira consagração se deu no batismo, como sinal indelével da dignidade laical, que não pode ser cancelada. Ninguém foi batizado como sacerdote ou bispo.
A respeito dos cristãos leigos e leigas não bastam frases bonitas e teorias, é preciso apoiar sua vida, pois o pastor é sempre pastor de um rebanho. Que a especulação não mate a ação. Dizemos que chegou a “hora dos leigos”, mas parece que o relógio parou.
Sabemos que a Igreja é o povo de Deus, cuja identidade é a dignidade e a liberdade dos filhos e filhas de Deus, portanto a Igreja não é uma elite de sacerdotes e bispos, mas povo santo. Por isso devemos estar abertos à unção do povo de Deus para evitar o clericalismo, que torna o padre um mandatário dos leigos, limitando suas iniciativas e audácias até a apagar o fogo profético que dá visibilidade e sacramentalidade à Igreja. O problema é que o clericalismo está presente também em leigos.
Convoco aos pastores a encorajar, acompanhar e estimular a ação dos cristãos leigos e leigas na vida pública, visto que principalmente nas cidades, a vida é apenas sobrevivência. Urge dar importância à Pastoral Popular, porque nela os cristãos leigos e leigas atuam com generosidade e sacrifício.
Fazem uma intensa experiência de Deus nos seus compromissos apostólicos, percebem e experimentam a paternidade, a providência e a presença amorosa e constante de Deus. Na piedade popular a cruz, a paciência, a devoção e o desapego são expressões palpáveis da fé do povo de Deus. Nela percebe-se e se vê a presença do Espírito Santo que dá ao povo o faro da fé, pois o Espírito não é propriedade da hierarquia.
Sejamos atentos à unção do Espírito para evitar o clericalismo e não anular a personalidade dos cristãos leigos e leigas, nem diminuir ou subestimar a graça batismal. Não é o pastor que deve dizer ao cristão leigo e leiga o que ele deve fazer ou dizer, pois ele sabe tanto ou até melhor do que nós.
Ao pastor cabe o ofício de estimular e promover nos fiéis a qualidade e a profundidade no desejo do bem, da verdade e da justiça para que a corrupção não venha a se aninhar em seus corações. É necessário refletir sobre o modo como acompanhar nossos fiéis leigos na sua vida pública e cotidiana.
Não podemos gerar e alimentar uma elite laical ou permitir atitudes de domínio de espaços. Temos que cuidar dos processos, conscientes de que não temos o monopólio das soluções para os desafios da realidade. Precisamos estar do lado do povo discernindo com ele e nunca sem ele. A melhor solução segundo as necessidades, lugares, tempo e pessoas é cuidarmos para não as uniformizarmos, mas, pelo contrário, estimularmos à inculturação.
Recebemos a fé por meio de nossas famílias, por isso não podemos perder essa memória. Os pastores não podem erradicar de si o pertencimento a um povo. Somos chamados a servir aos cristãos leigos e leigas e não a nos servirmos deles.
Termino esta reflexão com o pensamento de Santo Agostinho, ao afirmar que, para vós sou bispo, mas convosco sou cristão. O que sou para vós é motivo de temor, mas o que sou convosco é uma grande graça que me enche de prazer e alegria.