QUARESMA E LÁGRIMAS

QUARESMA E LÁGRIMAS - PE. NELITO

Quaresma, a vela acessa que derrama lágrimas quentes, ilumina,

aquece e nos compromete no seguimento a Jesus de Nazaré

Pe. Nelito Dornelas


Para nos ajudar na celebração litúrgica do tempo quaresmal, vale a pena recordar as palavras esclarecedoras ditas pela Irmã Penha Carpanedo e Pe. Marcelo Guimarães:

“Celebrar a Quaresma é festejar o refazer da aliança de Deus com a gente e que o nosso pecado e nossa negligência romperam. É renunciar aos nossos instintos egoístas e abrir-nos mais ao plano do Deus da vida. Celebrar a Quaresma é intensificar a oração, o jejum e a caridade, para vivermos mais consagrados ao Deus que nos reconciliou com ele. Celebrar a Quaresma é deixar-se conduzir ao deserto, para que o Senhor nos fale ao coração. É rever as linhas de conduta, corrigir os erros de trajetória, aprofundar a unidade entre nós. É assumir e reconhecer o negativo, a morte, o sofrimento, para vencê-los e superá-los. Como o grão de trigo que morre para nascer. Como a mulher que está para dar à luz e sofre as dores de parto. Como a uva que se esmaga para fazer o vinho que alegra o nosso coração.”

Nesta mesma linha de pensamento, na década de 1970, vamos encontrar na periferia de Recife – PE, os ensinamentos do Pe. Geraldo Leite, aquele que foi o mais brilhante pastor junto aos pobres e que mais se empenhou pela enculturação da liturgia. Ele pedia às comunidades que assumissem gestos bem concretos de jejuns no tempo quaresmal:

1- jejum da língua: evitar de falar o que não se deve. Fofocas, maledicências (primeira semana);

2- jejum dos passos: evitar frequentar lugares inconvenientes a um bom cristão a uma boa cristã (segunda semana);

3- jejum da vista: evitar novelas e certos programas de TV para participar

dos encontros durante a semana, via-sacra, caminhadas penitencias (terceira

semana);

4- jejum do gosto: em comunhão com os que passam fome, evitar aqueles alimentos que mais apreciamos, como doces, sorvetes (quarta semana);

5- jejum do coração: buscar sempre o desapego das coisas que nos atrapalham de entrar no seguimento de Jesus Cristo (quinta semana).

Observando estes ensinamentos práticos podemos celebrar a quaresma como o tempo de retomada de nosso ser, de renovação interior, reconciliação, penitência; jejum específico, oração e solidariedade, superando o mal com o bem, passando da velha para a nova conduta segundo os critérios de Jesus e de seu evangelho.

Sabemos que a eficácia do rito não se dá automaticamente, mas os ritos são necessários como processos pedagógicos para uma maior consciência do nosso cotidiano, para que este seja assumido com maior responsabilidade, respeito e reverência, como o lugar da vivência saborosa dos frutos da eternidade.

Valem as advertências e Jesus:

“Quando jejuardes, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os homens não vejam que tu estás jejuando, mas somente teu Pai, que está oculto” (Mateus 6,16-18).

Neste tempo quaresmal tornam-se pertinentes o alerta do papa Francisco: “diga-me como tu rezas, que te direi como tu vives. Diga-me como tu vives, que te direi como tu rezas.”

Que neste tempo da quaresma saibamos rezar, jejuar e praticar a caridade, assumindo a fraternidade nas políticas públicas para que sejamos libertados pelo direito e pela justiça.

Postagens mais visitadas deste blog

VIDA SACERDOTAL