DESÂNIMO OU ESPERANÇA?
Desânimo ou esperança, o que nos move?
Pe. Nelito Dornelas
Segundo a psicanálise o ser humano é movido por dois princípios ou duas pulsões, o princípio da morte, tânatos e o princípio da vida, eros.
Frei Inácio Larrañaga, em Mostra-me o Teu Rosto descreve o duelo entre estas duas pulsões, ao qual denominou desânimo e esperança. Na leveza do diálogo encontram-se duas pessoas boas, honestas e muito realistas, porém com perspectivas opostas sobre a vida depois de a ter vivido. Como uma ajuda no enfrentamento dos dramas destes tempos de pandemia, compartilho o que acabei de ler.Primeira cena: fala o desânimo. Sou uma pessoa que se encontra curvada ao peso da desilusão e da experiência da vida. Já vivi muito e me considero um velho lobo do mar. Agora, nada mais me entusiasma, nada me entristece, tudo resvala por mim. Estou curtido pela vida, e imunizado. Fui um jovem, sonhei muito, porque só os que ainda não viveram é que sonham. Nesse tempo, minhas árvores floresciam de ilusões, mas cada tarde soprava o tempo e carregava algumas delas.
Levantei-me e caí muito, tornei a levantar-me e caí muitas vezes. No horizonte de minha vista cravei as bandeiras de combate: obediência, humildade, paciência, pureza, contemplação, amor. Vi que os sonhos e a realidade estavam tão distantes como o Oriente do Ocidente.
E, mesmo curvado pelo peso de tantas derrotas pela vida, galguei outra vez o pináculo da ilusão, mas a queda foi ainda pior. Hoje, sou uma pessoa decepcionada e tenho a consciência de que não nasci para as coisas de Deus, enganei-me no caminho.
Olho para trás e só vejo ruínas. Olho a meus pés e tudo é desastre. Não sei se sou culpado disso ou não e nem me interessa mais saber. Ninguém volta atrás. Só tenho certeza de uma coisa: para mim não há esperança. O que fui até hoje e sou agora é o que vou ser até o fim e que minha sepultura vai se levantar sobre as ruínas de meu próprio castelo.
Segunda cena: fala a esperança. Você tinha levantado a sua casa sobre a espuma da ilusão. Por isso, ela desmoronou mil vezes, com o vai e vem das ondas. A areia loura das praias foi o fundamento de suas edificações e a ruína era inevitável. Suas regras do jogo foram o cálculo de probabilidades e as constantes psicológicas. E os resultados estão aí. Mas tenho uma palavra final para lhe dizer neste amanhecer: ainda pode ser. A esperança ainda é possível. Amanhã vai ser melhor. Vamos começar outra vez.