FÉ CRISTÃ E COMPROMISSO SOCIAL

 

Fé cristã e compromisso social

Pe. Nelito Dornelas

Para compreendermos o engajamento social assumido pela Igreja, faz-se necessário analisar as situações vividas na sociedade do século XIX.

As transformações sociais ocorridas a partir da revolução industrial provocaram as mais profundas explorações dos pobres, diante de uma total ausência do Estado Liberal. Isso conduziu fatalmente a uma luta de classes. E no centro desse conflito estava a disputa entre o capital e o trabalho e a Igreja Católica ainda não se havia pronunciado sobre esta situação.

Contudo, grupos de pensadores católicos começaram a enfrentar a questão. O primeiro deles foi o grupo das Conferências dos Vicentinos, fundado por Frederico Ozanan. Além das atividades assistenciais, as conferências organizaram patronatos, escolas para a aprendizagem dos operários e caixas de mútuo socorro. No campo da formação Frederico Ozanan e o Pe. Lacordaire fundaram um jornal chamado, Era Nova, na França, em 1848, ano do Manifesto Comunista.

O bispo de Moguncia Dom Guilherme Von Ketteler, três anos antes da publicação do Capital de Karl Marx, editou o livro Questão Operária e o Cristianismo, como proposta de organização dos operários e artesãos em associações profissionais que evoluíram para o sindicalismo católico alemão. Além disso, na Alemanha os congressos dos operários católicos anuais contribuíram muito para se chegar, em 1880, a uma legislação trabalhista, aprovada em 1890, na Conferência Internacional do Trabalho, em Berlim.

Merece destaque especial o cardeal Gioacchino Pecci na organização do corpo doutrinário social da Igreja católica. Ele foi nomeado núncio apostólico em Bruxelas em 1843 com apenas 33 anos de idade e conheceu ali o movimento social belga e as divergentes posições dos católicos liberais e sociais. Em 1845 foi escolhido para bispo da diocese de Peruggia, uma das primeiras cidades italianas a entrar no processo de industrialização. Depois de ter conhecido a realidade da diocese, em 1877, escreveu uma carta pastoral na qual reivindica a dignidade do trabalho e condena o tratamento desumano dado às crianças empregadas nas indústrias manufatureiras. Toda essa experiência foi levada ao coração da Igreja quando ele se tornou papa, em 1878, com o nome de Leão XIII. Foi de dentro desse caldo de cultura que nasceu aos 15 de maio de 1891, a encíclica Rerum Novarum - das coisas novas - com a colaboração do Padre Liberatore, o cardeal Zigliara, o cardeal Mazzela, padre Volpini e padre Boccali.

O Papa Leão XIII inaugura o que se convencionou a chamar de Doutrina Social da Igreja. Ele nos convidou a alargar o horizonte do nosso olhar para enxergar a Deus para além dos espaços religiosos e para encontrá-lo nas coisas novas que estavam acontecendo na sociedade contemporânea. Princípio este que deve orientar nosso ser cristão em todos os tempos.

A Igreja Católica no século XXI e sua relevância social

1- Circunscrições católicas no mundo todo: 12 patriarcados, 610 arquidioceses, 2.113 dioceses, 44 prelazias territoriais, 10 abadias nullius, 25 exarcados de ritos orientais, 36 ordinariatos militares, 87 vicariatos apostólicos, 11 prefeituras apostólicas, 8 administrações apostólicas, 8 missões independentes–sui iuris e uma rede de 132.642 centros missionários e 221.740 paróquias.

2- Entidades filantrópicas. 5.167 hospitais católicos, 15.699 casas para pessoas idosas, 10.124 orfanatos, 11.596 enfermarias, 14.744 consultórios de orientação familiar e 115.352 institutos beneficentes e assistenciais.

3- Número de fieis congregados. 1,3 bilhão de batizados, 3.170.643 catequistas, 362.488 missionários leigos, 54.559 irmãos religiosos e 668.729 religiosas com votos perpétuos de vida consagrada. O clero é composto de 5.485 bispos, 414.313 presbíteros, 45.000 diáconos casados permanentes e 116.939 seminaristas maiores.

4- Programa reformador. O Papa Francisco afirmou em sua carta-programa: “Exige-se a toda a Igreja uma conversão missionária: é preciso não se contentar com um anúncio puramente teórico e desligado dos problemas reais das pessoas (AL 201)”. Ele quer uma ação permanente de saída: “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação (EG 27)”.

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