TEOLOGIAS E DITADURA MILITAR-1


As teologias no contexto da ditadura civil militar 1


Pe. Nelito Dornelas

Palavras preliminares

Este artigo foi publicado em 2014 pela Comissão Brasileira de Justiça e Paz, em Brasília-DF, para um simpósio sobre o período sombrio vivido no Brasil de 1964 a 1989, conhecido como tempos de chumbo, ou décadas perdidas, dominado pela ditadura Civil Militar.

Há uma obra em dois volumes, publicada sob a autoridade do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, denominada Brasil nunca mais, registrando minuciosamente os crimes da ditadura.

O Brasil começou a superar este período, fruto de muito sangue e muita luta, com a Constituição Cidadã de 5 de outubro de 1988. Assistimos agora ao seu desmonte promovido pelo desgoverno quer se impor.

A razão pela qual reedito este artigo é a contribuição que ele oferece ao atual debate sócio político que ora se trava no seio de sociedade brasileira.

Percebo um acirramento de ânimo, muita ignorância e imposição de ideias reacionárias e retrógradas revestidas de um falso sentimento religioso e falso patriotismo, em nome da moral e dos bons costumes. Este filme é velho e já o conhecemos, bem como já sabemos do seu final.

Conclamo às pessoas de mente aberta a lerem pausada e pacientemente este artigo até o final. Peço-o sem nenhuma pretensão. O que desejo é ser coerente com a honestidade intelectual e a fidelidade ao Deus ao qual eu sirvo, Jesus de Nazaré, que foi assassinado e martirizado numa cruz por estes mesmos grupos políticos e religiosos que hoje ainda persistem e o fizeram em nome de deus, como o fazem de novo.

Digamos não à intervenção militar. Digamos sim à democracia. Superemos esta democracia formal e apenas representativa, que muito pouco nos representa e tenhamos a coragem de construir a democracia participativa e direta, até chegarmos a Laos Cracia, o governo do povo que inclua a todos e superemos o governo do demo, do coisa ruim.

Radicalizemos a democracia, pois qualquer democracia, por pior que seja, é melhor do que qualquer ditadura.

O autor.



Introdução

Desde o alvorecer dos anos de 1960, a Igreja Católica passou a acompanhar mais de perto e com certa preocupação os problemas sociais brasileiros. O marco-referencial desta renovada postura eclesial é a liderança de Dom Helder Câmara. Os protagonistas foram, sobretudo, os jovens participantes da JUC, Juventude Universitária Católica, e da JOC, Juventude Operária Católica. Havia nessa juventude católica militante um profundo anseio de gestar um modelo de sociedade que superasse a pura democracia formal na qual se fundava a sociedade brasileira, cujo poder permanecia concentrado em uma pequena elite burguesa.

Essa ânsia de participação acentuou-se ainda mais quando os militares, ao lado de membros exaltados da burguesia, passaram a atuar com violência contra os movimentos sociais, cerceando os direitos dos trabalhadores, prendendo, torturando, exilando e matando muitos de seus líderes mais expressivos, como pretexto de combater o comunismo.

Houve tensões entre membros da hierarquia católica e os jovens militantes da Ação Católica quanto ao método de análise da realidade, a forma de atuação política e até mesmo sobre a visão de sociedade por eles proposta. Todavia, apesar das cisões e rupturas surgidas dessas tensões, o saldo foi o surgimento de quadros militantes na esfera política, de inspiração cristã, composto por pessoas abertas ao iálogo com outros segmentos e opções ideológicas distintas, que souberam contribuir na proposição de uma sociedade socialista, includente, aberta e participativa.

O golpe civil-militar ocorrido em 1964 provocou uma cisão ideológica na esfera da Igreja, obtendo significativo apoio, tanto da parte do clero quanto do laicato. Houve também resistência de alguns grupos religiosos, como a Ação Católica e outros movimentos de resistência, de inspiração cristã, associados aos diferentes tipos de organização da sociedade provenientes de outras matrizes ideológicas.

Neste artigo, abordaremos sobre as teologias presentes na sociedade brasileira no contexto da ditadura militar, as motivações espirituais e políticas dos grupos cristãos pela redemocratização do país e sobre os desafios apontados para a vivência e a reflexão em chave de libertação no contexto atual.

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