ONDE ESTAMOS E PARA ONDE VAMOS?
Onde estamos e para onde vamos?
Pe. Nelito Dornelas
No momento presente em que estamos vivendo, nos sentimos como quem está diante de uma inesperada bifurcação, como se estivéssemos diante de uma verdadeira encruzilhada, ao percebemos que a história da humanidade, a forma de vida em sociedade e o nosso Planeta estão sofrendo profundas mudanças, talvez nunca vividas antes.
São tantas questões decisivas que nos chegaram ao mesmo tempo, com suas colisões de rotas, interferindo em nossos modelos e paradigmas de interpretação da vida, interferindo desde nossas relações primárias às mais globais, num verdadeiro choque cultural, que nos deixam perplexos e atordoados e com o sentimento de estarmos caminhando para a barbárie.
Doutro lado, aflora em muitos a consciência de que o ser humano corresponde à dimensão da Terra e é prisioneiro desse Planeta, no qual vivemos de forma definitiva. Como jamais o deixaremos é nosso dever tentar viver com responsabilidade e respeito, esforçando-nos para não destruí-lo e não sermos devorado por ele.
O que mudou de fato são as condições nas quais nós, os humanos, vivemos hoje tão juntos e apertados nesse pequeno Planeta Terra, que pensávamos ser imenso e infinito.
Segundo os estudiosos da questão, no decorrer da evolução, raras foram as espécies que viveram mais de algumas centenas de milhões de anos, por isso, virá necessariamente um dia em que a nossa espécie também terá desaparecido. Não restará nenhum traço dos fabulosos esforços feitos pelos humanos para transformar a porção do universo que nos fora atribuída.
Na verdade, não é a morte individual que deve nos preocupar em primeiro lugar, mas a morte coletiva que é um verdadeiro escândalo, como nos tem advertido o Papa Francisco: esta economia mata! Estamos caminhando, a passos largos, para um suicídio coletivo. Não a uma economia de morte! Não à tecnocracia!
Estamos vivendo uma verdadeira revolução, e já fomos jogados no olho do furacão. E não podemos nos esquecer de que toda revolução divide os humanos em dois campos opostos: aqueles que a sofrem e aqueles que a conduzem. Devemos, portanto, tomar consciência de que temos o dever de participar ativamente das mudanças em curso, para dar-lhes uma direção certa e não aceitar o decreto de morte, a sina da fatalidade que querem nos impor.
Já acumulamos experiências suficientes para mudarmos o curso da história e uma extraordinária capacidade de conhecimentos capazes de transformar este mundo. Mas, sem nos esquecermos de que estes conhecimentos e os meios para executá-los encontram-se nas mãos de alguns que, em poucos dias, poderão destruir a humanidade inteira e o nosso frágil Planeta.
Portanto, tomemos cuidado com a divulgação massiva da ideia de que estamos em crise, pois o conceito de crise é perigosamente enganador, quando o mesmo esconde dentro de si a ideia de que se estabelecermos as mesmas situações vividas em um determinado passado no momento atual, resolveremos todos os problemas. Isso não é verdade e muito menos possível, pois não haverá retorno ao passado. Ao invés do conceito ideológico de crise, o ideal seria o conceito de mutação irreversível.
Depois de tudo que estamos vivendo, nascerão novas formas de vida em sociedade muito diferente do que conhecíamos até então e guardará pouquíssimas lembranças do mundo anterior.
Sofremos, muitas vezes, de uma certa preguiça intelectual, preferindo viver como de costume, adaptados ao modo de vida ao qual já estávamos acostumados. Esta preguiça está na origem da ideia, hoje dominante, de que o futuro pode ser imaginado como uma repetição do passado. É urgente desembaraçar-nos desta ilusão.
As novas visões científicas e o nosso acúmulo de práticas e experiências podem nos auxiliar a sairmos de uma atitude submissa e a construirmos uma atitude ativa diante daquilo que está dado e imposto como definitivo.
Preparemo-nos para atravessar um século, no qual os percursos traçados anteriormente não mais se prolonguem. Que nos libertemos das heranças malditas que recebemos e nos apropriemos de suas nobres conquistas.
No passado se dizia que não há nada de novo debaixo do sol (Ecl 1,9), mas hoje possuímos uma exata compreensão de que não sabemos tudo e tampouco conhecemos tudo. Há mais mistério entre o céu e a terra do que imaginávamos.
De uma coisa estamos certos: chegou o tempo do fim da exclusão e da privação desta imensa multidão de seres humanos e de tantas criaturas ao mínimo necessário à sua sobrevivência e ao direito, ao menos, de uma morte digna. Não mais poderemos tolerar o espetáculo da opulência, da mentira e da maldade escancarada a nossos olhos.
E para continuarmos nesta inquietação, voltemos nosso olhar para Maria de Nazaré e, com o Papa Francisco, elevemos esta prece:
À vossa proteção, recorremos, Santa Mãe de Deus.
Na dramática situação atual, carregada de sofrimentos e angústias que oprimem o mundo inteiro, recorremos a vós, Mãe de Deus e nossa Mãe, refugiando-nos sob a vossa proteção.
Ó Virgem Maria, voltai para nós os vossos olhos misericordiosos nesta pandemia do coronavírus e confortai a quantos se sentem perdidos e choram pelos seus familiares mortos e, por vezes, sepultados de uma maneira que fere a alma.
Sustentai aqueles que estão angustiados por pessoas enfermas de quem não se podem aproximar, para impedir o contágio.
Infundi confiança em quem vive ansioso com o futuro incerto e as consequências sobre a economia e o trabalho.
Mãe de Deus e nossa Mãe, alcançai-nos de Deus, Pai de misericórdia, que esta dura prova termine e volte um horizonte de esperança e paz. Como em Caná, intercedei junto do vosso Divino Filho, pedindo-lhe que conforte as famílias dos doentes e das vítimas e abra o seu coração à confiança.
Protegei os médicos, os enfermeiros, os agentes de saúde, os voluntários que, neste período de emergência, estão na linha de frente arriscando a própria vida para salvar outras vidas. Acompanhai a sua fadiga heroica e dai-lhes força, bondade e saúde.
Permanecei junto daqueles que assistem noite e dia os doentes, e dos sacerdotes que procuram ajudar e apoiar a todos, com solicitude pastoral e dedicação evangélica.
Virgem Santa, iluminai as mentes dos homens e mulheres da ciência, a fim de encontrarem as soluções justas para vencer este vírus.
Assisti os responsáveis das nações, para que atuem com sabedoria, solicitude e generosidade, socorrendo aqueles que não têm o necessário para viver, programando soluções sociais e econômicas com clarividência e espírito de solidariedade.
Maria Santíssima tocai as consciências para que as somas enormes usadas para aumentar e aperfeiçoar os armamentos sejam, antes, destinadas a promover estudos adequados para prevenir catástrofes do gênero no futuro.
Mãe amadíssima, fazei crescer no mundo o sentido de pertença a uma única grande família, na certeza do vínculo que une a todos, para acudirmos, com espírito fraterno e solidário, a tanta pobreza e inúmeras situações de miséria. Encorajai a firmeza na fé, a perseverança no serviço, a constância na oração.
Ó Maria, Consoladora dos aflitos, abraçai todos os vossos filhos atribulados e alcançai-nos a graça que Deus intervenha com a sua mão onipotente para nos libertar desta terrível epidemia, de modo que a vida possa retomar com serenidade o seu curso normal.
Confiamo-nos a Vós, que resplandeceis sobre o nosso caminho como sinal de salvação e de esperança, ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria. Amém!