IGREJA E DEMOCRACIA

 

A Igreja e a defesa da democracia

Pe. Nelito Dornelas

        A Igreja em nosso continente latino americano tem atuado firmemente na defesa dos direitos humanos,  na ação pela cidadania e defesa dos princípios democráticos, respeitando a laicidade do Estado.

E o faz de forma orgânica e sinodal, sobretudo, a partir da publicação da encíclica Pacem in Terris (1961), do Papa João XXIII e pelo impulso evangélico e renovador do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965). Ela produziu os documentos de Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingos (1992) e Aparecida (2007), formando um verdadeiro magistério episcopal vindo a somar ao magistério petrino na grande tradição eclesial de sua Doutrina Social.

       Em Medellín encontramos os seguintes compromissos pastorais: “Defender, segundo o mandato Evangélico, os direitos dos pobres e oprimidos, urgindo os nossos governos e classes dirigentes que eliminem tudo o quanto destrua a paz social: injustiça, inércia, venalidade, insensibilidade”; “Alentar e favorecer todos os esforços do povo para criar e desenvolver suas próprias organizações de base, pela reivindicação e consolidação de seus direitos e busca de uma verdadeira justiça” (DMd 2, 22.27).

Esta opção da Igreja foi retomada e encorajada em Aparecida “Só a proximidade que nos faz amigos nos permite apreciar profundamente os valores dos pobres de hoje, seus legítimos desejos e seu modo próprio de viver a fé. A opção pelos pobres deve nos conduzir à amizade com os pobres. Dia a dia os pobres se fazem sujeitos da evangelização e da promoção humana integral: educam seus filhos na fé, vivem uma constante solidariedade entre parentes e vizinhos, procuram constantemente a Deus e dão vida ao peregrinar da Igreja. À luz do Evangelho reconhecemos sua imensa dignidade e seu valor sagrado aos olhos de Cristo, pobre como eles e excluído como eles. Desta experiência cristã compartilharemos com eles a defesa de seus direitos” (DAp 398).

Por acreditar no caminho do diálogo na busca de solução aos volumosos problemas nacionais que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que em sua nota sobre o momento atual do Brasil afirma que: “Vivemos uma profunda crise política, econômica e institucional que tem como pano de fundo a ausência de referenciais éticos e morais, pilares para a vida e organização de toda a sociedade. A busca de respostas pede discernimento, com serenidade e responsabilidade. (...) O Congresso Nacional e os partidos políticos têm o dever ético de favorecer e fortificar a governabilidade. O momento atual não é de acirrar ânimos. A situação exige o exercício do diálogo à exaustão. (...) É fundamental garantir o Estado democrático de direito.

Conclamamos a todos que zelem pela paz em suas atividades e em seus pronunciamentos. Cada pessoa é convocada a buscar soluções para as dificuldades que enfrentamos. Somos chamados ao diálogo para construir um país justo e fraterno”. (CNBB 10 de março de 2016)

O Papa Francisco, em visita ao Brasil, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro (2013) deixou-nos fortes luzes a nos iluminar no enfrentamento aos graves problemas de nossa Nação, marcada por profundas ambiguidades, ao afirmar que “A vida nos cobra responsabilidade social que assumimos pela política. Por conseguinte precisamos reabilitar a política, que é uma das formas mais altas da caridade. A política deve evitar o elitismo da democracia representativa, (...) incentivar cada vez mais e melhor a participação das pessoas com a finalidade de assegurar a todos dignidade, fraternidade e solidariedade. A participação e o diálogo entre as diversas riquezas culturais fazem crescer o país. A única maneira para fazer avançar a vida dos povos é o diálogo e a cultura do encontro. Nesse diálogo, todos têm algo de bom para dar, e todos podem receber em troca algo de bom. Esse diálogo exige humildade social que abre mão de exigências hegemônicas, culturais e sociais. As grandes tradições religiosas podem desempenhar um papel fundamental para a convivência harmoniosa de uma nação, já que a laicidade do Estado garante sua convivência pacífica”. E mais: “Ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião a uma intimidade secreta de pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos”. (EG 183)

Estou certo de que todo este compromisso social assumido pela Igreja, brota da fonte genuína das Sagradas Escrituras, como bem expressas pelo autor sagrado: “Amor e fidelidade se encontrarão, justiça e paz se abraçarão. A fidelidade brotará da terra e a justiça se inclinará do céu e Javé nos dará a chuva e a terra dará seu fruto”. (Salmo 85, 11-13)

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