EM BUSCA DE SENTIDO

 

Em busca de sentido

Pe. Nelito Dornelas

 

A busca do sentido da vida é uma das questões mais complexas da humanidade. E por considerar sua relevância, a CNBB promoverá a Campanha da Fraternidade do próximo ano sobre este tema. O evangelho iluminador é a parábola do Bom Samaritano (Lc 10,27-35). 

De fato, nossa vida é toda pautada pelas duas linhas existenciais estruturantes do nosso ser, a saber, a linha da aspiração, que é tudo o que desejamos ser ou ter e a linha da aptidão, que compreende o que podemos ser ou ter. Estas duas linhas precisam andar o mais próximo possível para que não nos desintegremos.

À luz da psicologia profunda, podemos afirmar que cada pessoa possui quatro EUs. O eu cego, o eu aberto, o eu secreto e o eu escondido. O eu aberto é conhecido pelo próprio eu e pelos outros; o eu cego é desconhecido pelo eu e conhecido pelos outros; o eu secreto é conhecido pelo eu e não conhecido pelos outros e o eu desconhecido é desconhecido tanto pelo eu como pelos outros.

Para purificar e aprimorar os EUs, quem melhor elucidou um caminho possível foi o poeta e místico Gibran Khalill no poema A Perfeição.

Tu me perguntas, ó irmão, quando o homem será perfeito. Ouve minha resposta: O homem se encaminhará rumo à perfeição quando começar a sentir que ele é o espaço ilimitado, o mar sem fundo, o fogo em chama, a luz sempre brilhante, o vento em repouso ou em movimento, as árvores em flores ou desfolhadas, os campos férteis e inférteis, as montanhas e os vales. Quando o homem sentir todas essas coisas, estará no caminho da perfeição.

Se quiser atingir o cume mesmo da perfeição, deverá sentir, quando pensar em si, que é a criança amparada pela mãe, o jovem perdido entre suas aspirações e sua paixão, o adulto responsável pela sua família, o velho em luta contra seu passado e seu presente, o anacoreta em sua cela, o criminoso encarcerado, o sábio no meio de seus livros e papeis, o ignorante entre as trevas de seu dia e as trevas de sua noite, a freira entre as flores de sua fé e os espinhos de sua solidão, a prostituta entre as garras de sua fraqueza e as cadeias de suas necessidades, o pobre entre sua amargura e sua submissão, o rico entre suas ambições e suas limitações, e o poeta entre o nevoeiro de sua tarde e a luz de sua aurora. Quando o homem conseguir experimentar todos esses estados chegará à perfeição e se tornará uma sombra de Deus.

E São Francisco de Assis vai nesta mesma linha de pensamento, querendo contribuir com seus confrades na busca do sentido para suas vidas deixou-nos um dos mais sábios conselhos:

Se sentires o chamado do Espírito, atende-o e procura ser santo com toda a tua alma, com todo o teu coração e com todas as tuas forças. Se, porém, por humana fraqueza não conseguires ser santo, procura então ser perfeito com toda a tua alma, com todo o teu coração e com todas as tuas forças. Se, contudo, não conseguires ser perfeito por causa da vaidade de tua vida, procura então ser bom com toda a tua alma, com todo o teu coração e com todas as tuas forças.  Se, ainda, não conseguires ser bom por causa das insídias do maligno, então procuras ser razoável com toda a tua alma, com todo o teu coração e com todas as tuas forças.

Se, por fim, não conseguires nem ser santo, nem ser perfeito, nem bom, nem razoável por causa do peso dos pecados, então procuras carregar este peso diante de Deus e entregas tua vida à divina misericórdia. Se isso fizeres, sem amargura, com toda a humildade e com jovialidade de espírito por causa da ternura de Deus que ama os ingratos e maus, então começarás a sentir o que é ser razoável, aprenderás o que é ser bom, lentamente aspirarás a ser perfeito, e, por fim, suspirarás por ser santo. Se tudo isso fizeres, cada dia, com toda a tua alma, com todo o teu coração e com todas as tuas forças, então eu te asseguro, irmão, não estarás longe do reino de Deus. 

Portanto, comece fazendo o que é necessário, depois fazendo o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível. Eis o sentido da vida!

 

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