ECOLOGIA
ECOLOGIA
Por uma Ecologia Integral para superar as crises da sociedade atual
Pe. Nelito Dornelas
Hoje se fala das muitas crises sob as quais padecemos: crise econômica, crise energética, crise social, crise educacional, crise moral, crise ecológica, crise espiritual.
Mas na verdade todas essas crises têm seu fundamento numa única crise, no modelo de sociedade que criamos a partir dos últimos 400 anos. Esta crise é global, pois este modelo de sociedade foi difundido, implantado e imposto, praticamente, em todo o Planeta.O resultado dessa escolha é um Planeta ameaçado e insustentável. A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o dia 23 setembro de 2008 como o dia do ‘Ultrapassamento’, quando começamos a gastar 30% a mais dos bens naturais disponíveis no Planeta.
Cuidar da vida do Planeta e no Planeta tornou-se um imperativo ético, que exige uma ‘reconversão ecológica’ para o nosso estilo de vida, para a nossa mentalidade, inclusive para a nossa espiritualidade. Precisamos ‘voltar para a Casa Comum’, da qual saímos indevidamente, auto exilando-nos. Perceber isso é descobrir a ecologia como ‘Eco Sofia’, buscando a sabedoria que nos permita conhecer e compreender os ritmos de convivência nesta ‘Casa Comum’.
Essa Eco Sofia alcança o nível de uma Eco Teologia que vai buscar suas raízes nas tradições indígenas, nas religiões africanas, nas cosmovisões orientais e nos ensinamentos e estilos de vida que surgem dos grandes mestres espirituais e na tradição judaico cristã. Surge, assim, uma mística da austeridade, da não violência ativa, da solidariedade, do serviço, do cuidado e da compaixão, que se constitue como pilar para buscar confluências e estabelecer plataformas de uma autêntica ética ecológica, a ‘Ecologia Integral’.
A ‘ecologia Integral’ expressa-se nas muitas buscas contemporâneas existenciais, manifesta-se em uma grande variedade de correntes de pensamentos e se constituiu em um novo paradigma. Uma consciência ecológica radical nos levará às raízes, ajudando-nos a construir uma maneira nova de inter-relacionamento com tudo e com todos.
Descobrimos que a Terra é um superorganismo vivo, que articula o físico, o químico e o biológico de forma tão entrelaçada que compõe um todo orgânico para manter e reproduzir a vida. Não existe apenas vida sobre a Terra, a Terra mesma é viva, a Gaia, Terra vivente, que possui uma vitalidade espantosa.
Cada colher de chão contém na média entre 40 a 50 bilhões de micro-organismos, bactérias, fungos e protozoários. Eles estão presentes, aos bilhões e bilhões, dentro de nosso corpo. São eles que garantem a vitalidade dos solos e fazem que do mesmo chão nasçam flores, plantas e árvores frutíferas. São eles que equilibram nosso corpo de tal forma que mantém sua saúde e vitalidade.
Há milhões e milhões de anos, apesar das poluições vulcânicas e outras, a Terra sempre mantém 21% de oxigênio. Se subisse para 28% ninguém poderia acender um fósforo porque incendiaria o oxigênio do ar. Se descesse para 13%, todos desmaiaríamos por falta de ar. De forma semelhante o nível de sal dos oceanos é sempre, desde bilhões de anos, 3,4%. Se subisse para 6% seria como um Mar Morto, sem vida. Se descesse a 2% haveria um transtorno nos climas que são regulados pelo movimento dos oceanos. E assim todos os elementos da escala periódica de Mendeleiev, como o ferro, o enxofre, o magnésio e outros. Tudo é tão dosado que, efetivamente, a Terra está viva.
Homem vem de humus, que significa terra boa. Adão vem de adamah, que significa terra fecunda. Quer dizer, nós viemos da Terra, mais ainda, somos a própria Terra que em um momento avançado de sua evolução começou a sentir, pensar, amar e venerar. Esse é o momento no qual surgiu o ser humano.
Nunca devemos nos esquecer de que somos Terra, temos o mesmo destino que a Terra, mas recebemos de Deus uma missão, de cuidar e de guardar o jardim do Éden, a Terra. É a nossa dimensão ética que só nós possuímos. Cuidar significa um gesto amoroso para com a Terra, é a mão estendida para protegê-la e defendê-la. Guardar é garantir sua sustentabilidade, fazer que nos ofereça tudo o que precisamos para viver, preservando seu capital natural para as presentes e futuras gerações, além de atender também a toda a comunidade de vida. A Terra não gerou apenas a nós, seres humanos, mas a todos os demais seres vivos que são, verdadeiramente, nossos irmãos e irmãs. Hoje precisamos voltar a esta visão da Terra como Grande Mãe e Gaia, a Pachamama. Só ela é verdadeira. Só ela pode oferecer as condições para um novo padrão de produção e de consumo que nos faça sair das crises atuais. Só ela nos poderá garantir um futuro comum de vida e esperança.