TERRA: LUGAR DE DIÁLOGO
Terra: lugar do diálogo entre Deus e a humanidade
Pe. Nelito Dornelas
A alarmante situação do planeta Terra aponta para a necessidade de se escutar seus gritos de socorro.
Está ameaçada a vida do planeta Terra e, ao mesmo tempo, a vida no planeta Terra. Sem nenhum alarmismo, mas com séria preocupação, podemos dizer como profeta Jeremias: por causa disso a terra há de chorar (Jr 4,28).Somos também desafiados a buscar novos paradigmas para encontrar, com sabedoria, o melhor caminho diante desta encruzilhada civilizatória na qual estamos vivendo.
E mais uma vez ressoa aos nossos ouvidos o alerta do profeta: o meu povo é tolo, a mim ele jamais conheceu, gente boba e ignorante, sábios para o mal, não sabem o que é fazer o bem. Olhei para a terra, ei-la vazia e deserta, para o céu, não tinha a sua luz (Jr 4,22-23).
Fazer o bem, terra vazia e deserta, céu sem luz, são palavras que ecoam em nosso coração, que trazem à nossa memória a primeira página do livro do Gênesis, a grande parábola da criação que nos revela e nos faz conhecer o carinho e o cuidado de Deus com a criação. Todas as criaturas são fruto do hálito divino e nós, os humanos, trazemos impregnados suas digitais.
É na memória contida na Sagrada Escritura que se baseia a nossa sabedoria e para lá temos que voltar sempre, como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas (Mt 13,52). Essa sabedoria quer se somar à sabedoria que vem das experiências milenares dos povos indígenas e originários, dos quilombolas, dos camponeses, dos artesãos e dos diversos ramos dos estudos científicos.
A Criação necessita ser recriada de forma permanente. E Deus viu tudo quanto havia feito e eis que era muito bom (Gn 1,31). Nesta primeira memória da criação (Gn 1,1-2,4a) que abre a Sagrada Escritura o “bom” é o fruto da ação de Deus, é a vida que, pela palavra divina, venceu as forças primordiais da morte, representadas na mitologia antiga, pelo deserto, pelas trevas e pelo abismo (Gn 1,2).
É assim que, desde o princípio, a força da vida vem enfrentando todas as formas da morte, num processo permanente de criação e recriação, até o fim da história, até que veremos novos céus e nova terra e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor (Apoc 21,1.4) e tudo será, definitivamente, bom, muito bom.
Boa é a luz que vence as trevas, bom é o firmamento que divide as águas, boa é a terra com suas plantas e suas sementes que vencem o deserto.
Bons são os luzeiros do céu que farão com que a luz continue vencendo as trevas, ao longo dos tempos e marcando o ritmo da vida, bons são os peixes e os pássaros, forças vivas e abençoadas para fervilhar nas águas e para voar sobre a terra, bons são os animais de todas as espécies que, tendo uma alma vivente, abençoados e fecundos, se multiplicarão sobre a terra.
Muito bom são Adão e Eva, homem e mulher, imagem e semelhança de Deus, abençoados para continuar sua obra, cuidando da terra e domesticando os demais seres vivos com paixão criadora e amorosa, renovando, ao longo da história, a obra de transformar tudo que for trevas, abismo e deserto, em luz, água e terra boa para se viver, em vista da felicidade de todos os seres vivos, de todas as pessoas, para que a morte não tenha nunca a última palavra e tudo possa continuar sendo bom, muito bom.
Esta é a teologia da criação que vem motivando o Papa Francisco a convocar o Sínodo especial Pan Amazônico, em outubro do corrente ano, em Roma, para debater sobre os novos caminhos para a Igreja e para a Ecologia Integral.
Vamos acompanhar e participar deste debate. Temos que acolher com alegria este tempo de graça.